Um dia eu saí de carro e tentei fazer as contas se eu desse R$ 0,50 para cada pessoa que me pedisse no trânsito, seja em sinal, ou quando estacionasse. Desisti! Afinal, nunca fui bom em matemática mesmo. Foram muitos pedidos, muitos MESMO.
Rapaz, esse negócio de ser pedinte no trânsito da nossa cidade deve ser rentável mesmo.
Já vi de tudo: alunos que acabaram de entrar na universidade, gente que realmente necessita, aleijados, crianças treinadas (tem uma história ótima), artistas circenses, religiosos (crentes, freiras, católicos) – pois é, até as igrejas viram em pedir dinheiro no trânsito uma fonte de renda – os que limpam o seu para-brisa (você já pensou se a maioria dos garçons que trabalham aqui em Natal fossem viver disso? Morreriam de fome, porque com a “agilidade” que eles tem pra chegar nas mesas...Tem muito que aprender com esse pessoal nesse quesito).
Tem os que são os “donos das ruas” (flanelinhas). Mas aí não são mais pedintes. As ruas já estão loteadas, tipo: Daqui até o terceiro poste é meu. De lá em diante é “Chico Oiticica” e por aí vai. E virou uma cobrança de taxa. Quase um estacionamento de shopping, com a diferença que hoje, você não pode apresentar nota fiscal para ter a gratuidade, sem falar nas coberturas legais.
E eles estão se profissionalizando. Vá a um evento – jogo de futebol, show, circo, etc. – Lá vem o “figura” com o papel com o nome dele escrito de caneta, a palavra estacionamento e o valor pré-estabelecido. Aí eu pergunto, se acontecer algo com seu carro, você vai recorrer a quem?
Muitos devem responder: “Pago justamente para que não façam nada”.
Vejam a que ponto chegamos. Temos que pagar uma “taxa”, pois se não, nosso bem (carro), poderá ser danificado. Estamos as inteira mercê desse pessoal.
Outra vez, conversando com uma dessas figuras (um flanelinha), ele deixou escapar que, num mês bom, chega a fazer perto de R$ 2.000,00. Pois é, se ele for esperto,dá até pra pagar previdência privada, para poder garantir um futuro tranqüilo.
Tem gente que estuda vários anos e mal consegue isso no fim do mês.
O que nos resta a fazer? Pagar, né! Ou então...
Ah, sobre a história das crianças treinadas. Há alguns anos, peguei um ônibus e um menino veio com aquela ladainha (quase cantando), que precisava ajudar os seis irmãos e a mãe estava doente em casa. Eu o chamei, e disse “Te dou R$ 10,00 se você me disser o nome dos seus 6 irmãos”. Ele parou no segundo.
Até isso virou uma máfia, e o que é pior, corrompendo crinaças de 5, 6, 7 anos de idade.
Boa sorte a todos nós.
